Morro lentamente a cada instante em que me recuso a viver sob regras redigidas e regidas por mim. A cada momento em que ouvir, dançar, sonhar, ler, escrever se tornam obrigações e não o que necessariamente desejaria fazer.
Morro lentamente por que me transformei em um escravo de tudo, do mundo, do viver. Repetindo diariamente todas as funções, emoções e gestos.
Morro lentamente por ter medo de mudar, de arriscar e/ou de apenas ser eu mesmo. E continuo a morrer, reclamando da vida, de tudo, de todos, da sorte.
Morro lentamente, vagarosamente, incessantemente, desesperadamente, insuficientemente, mas morro e sigo a morrer. E nessa necessidade disfarçada de morrer e/ou mesmo de matar o que sou para nascer como quero ser, almejo ser, desejo ser, vou esquecendo que nem a morte é tão simples quanto o simples fato de não respirar.
E concluo que nem morrer lentamente me é permitido e assim decido viver, já que o morrer não me cabe.
Inspirado no texto de Pablo Neruda “Morre lentamente”.
Por Lila Nogueira.